A indústria cultural não apenas reflete a sociedade como também a influencia. Não raro, filmes, séries e documentários servem como porta de entrada para a discussão de temas espinhosos, contribuindo para massificar ideais de vanguarda. A questão das mulheres e do feminismo esteve presente nas manifestações artísticas e culturais desde que essa indústria se estabeleceu, nas primeiras décadas do século XX, com menor ou maior presença. Embora seja inegável a existência de um forte machismo nas produções audiovisuais - como as inúmeras denúncias de assédio e abusos escancaram - questões pertinentes aos direitos das mulheres e o protagonismo feminino, permeiam obras das mais variadas épocas e estilos, com especial destaque para o último período com a ascensão da quarta onda do feminismo.
Aqui no Studio Pipoca amamos filmes, séries e documentários! Especialmente aqueles que não apenas divertem como fazem pensar e questionar. Essa paixão pelo audiovisual e pela questão das mulheres nos motivou a fazer uma lista com indicações de produções que abordam essa temática de diferentes formas para você curtir e se inspirar. Como são muitas as produções incríveis, resolvemos dividir as indicações em duas partes. Nessa primeira você encontra uma lista de séries e filmes feministas e logo, logo, iremos publicar outra lista apenas com documentários. Já sabe né? Se você tem alguma indicação que ficou de fora da lista, compartilha com a gente! Quem sabe não faremos uma segunda parte?
Studio Pipoca Indica: produções audiovisuais para se inspirar
Nada Ortodoxa:
A produção original da Netflix é uma minissérie baseada em fatos reais - a história foi inspirada no livro "Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots" de Deborah Feldman – e conta a trajetória de uma jovem que foge de seu casamento arranjado e da comunidade ultra ortodoxa da qual fazia parte para ir morar em Berlim com sua mãe. O conflito entre a vida secular e o passado religioso, bem como a busca realizada por seu marido, movimentam a trama que traz uma realidade enfrentada ainda hoje por mulheres de diferentes religiões e partes do mundo.
Mad Men:
Mad Men é daquelas grandes séries desse século, arrebatando uma série de prêmios enquanto esteve em produção. A história mostra a luta de um publicitário para se manter no topo da profissão na Nova York dos anos 1960. Pode parecer estranho a série estar em uma lista de indicações feminista, mas além de contar com grande participação feminina no time de roteiristas, Mad Men foi uma das séries que melhor foi capaz de retratar as mulheres, com personagens complexas, que se destacam ainda mais dentro de um cenário extremamente machista como a publicidade dos anos 1960.
Orange Is The New Black:
Uma das primeiras produções originais da Netflix, Orange Is The New Black se passa dentro de uma prisão feminina nos Estados Unidos. Embora o foco inicial da trama seja na protagonista, uma mulher branca de classe média que acaba na prisão, logo conhecemos – e nos apaixonamos – por outras mulheres de diferentes origens e etnias. A série, que adota um tom de dramédia, aborda questões como as deficiências do sistema prisional, encarceramento em massa, feminismo, sororidade, racismo, violência estatal, xenofobia, imigração, assédio, maternidade, desigualdades, imigração, entre outros, sendo um excelente retrato da sociedade estadounidense da última década.
GLOW:
A primeira vista a comédia que aborda a produção de um show de wresteling apenas com mulheres na década de 1980 pode não ser o que você tem em mente quando pensa em produções feministas. GLOW, porém, além de ser uma denuncia escrachada do machismo existente na indústria do entretenimento, ainda conta com um time de mulheres fortes que crescem consideravelmente ao longo da trama. É incrível como as roteiristas conseguiram colocar a sororidade como centro da relação entre essas mulheres, fugindo da solução fácil e clichê da competição feminina, além da capacidade de apontar não apenas o machismo aberto, como aquele mais sutil.
Unbelievable:
A produção original da Netflix foi lançada em 2019 e logo conquistou a atenção de público e crítica. O drama, baseado em fatos reais, aborda a cultura do estupro tendo como pano de fundo a história da uma jovem que é acusada de fazer uma falsa denuncia de abuso. Anos depois, uma dupla de investigadoras encontram evidências que podem revelar a verdade do caso. Em um momento onde as vitimas de abuso ainda são desacreditadas e até culpabilizadas pela violência sofrida, a série se mostra atualíssima e necessária.
Coisa Mais linda:
Série nacional da Netflix, Coisa mais Linda, conta a história de um grupo de mulheres no Rio de Janeiro dos anos 1950 que enfrentam o machismo da época para abrir um clube noturno de bossa nova. A produção é muito elogiada pela caracterização da época e a atuação das atrizes, e além da questão das mulheres e do machismo, aborda também o racismo, tendo com uma de suas protagonistas uma mulher negra.
Thelma & Louise:
O road movie dirigido por Ridley Scott foi lançado no início dos anos 1990 e já se tornou um clássico cult. Na história, as amigas Thelma e Louise saem para férias de um fim de semana em uma cabana de pesca. No caminho, porém, são vítimas de violência sexual onde acabam matando o agressor. A partir daí a trama foca na tentativa de fuga da dupla. Além da violência, abuso e machismo, Thelma & Louise leva a grande tela o amor entre mulheres, contando com uma das cenas finais mais emocionantes do cinema.
Tomates Verdes Fritos:
Outro clássico do início dos anos 1990, tomates verdes fritos conta a história de Evelyn Couch. Ao visitar um parente em um lar de idosos, Evelyn forma uma amizade com Niny Threadgoode, que mostra uma nova perspectiva de vida a ela através das histórias de seu passado. Se você ainda não viu Tomates Verdes Fritos está perdendo uma excelente dramédia com protagonistas femininas e os desafios enfrentados pelas mulheres ao longo da vida.
Erin Brockovich – Uma mulher de talento:
Estrelado por Julia Roberts, o filme é baseado na história real de Erin Brockovich, que ao ir trabalhar em um escritório de advocacia se depara com vários casos arquivados envolvendo contaminação da água. Erin assume a frente das investigações e mobiliza pessoas em busca de uma indenização junto à companhia de água. Erin Brockovich é retratada com uma mulher empoderada que enfrenta o machismo e a dúvida sobre as suas capacidades, além de conciliar sua empreitada com os desafios de ser mãe solo de três filhos.
Bagdad Café:
Lançado no final dos anos 1980, Bagdad Café conta a história de uma turista alemã que ao brigar com o marido segue sem rumo pelo deserto do Arizona, até parar no posto que dá nome ao filme, sendo recebida de forma seca pela dona que havia acabado de expulsar seu marido de casa. Da convivência, nasce uma amizade entre duas mulheres que descobrem ter mais em comum do que imaginam.
Anjos Rebeldes:
Lançado em 2004, em um momento onde o movimento feminista se encontrava em refluxo, Anjos Rebeldes é uma obra potente que por vezes fica esquecida em lista de indicações. Vale reforçar que a época o filme não foi lançado no cinema, sendo uma produção para TV. Anjos Rebeldes conta a história do movimento sufragista estadunidense em 1910, com foco nas líderes do movimento pelo voto feminino. Baseado em uma história real, conta com cenas marcantes e fortes da luta das mulheres, inclusive da repressão enfrentada.
As Sufragistas:
As Sufragistas também é uma obra que aborda a luta pelo direito ao voto feminino no início do século XX, dessa vez na Inglaterra. Se Anjos Rebeldes foca nas líderes dos movimentos nos EUA, As Sufragistas tem como protagonista uma mulher comum, sem formação política, que a partir das opressões do dia a dia toma consciência e passa a lutar pelos seus direitos. O filme conta com grande elenco, incluindo a maravilhosa e ícone Meryl Streep. A obra ganhou grande destaque em seu lançamento, no ano de 2015, em parte graças à ascensão da quarta onda do feminismo que continua a varrer e transformar o mundo.
Histórias Cruzadas:
É impossível falar desse filme sem destacar a atuação espetacular de Viola Davis, que lhe rendeu a indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. A trama de Histórias Cruzadas se passa nos EUA da década de 1960 e aborda a ida de mulheres negras que deixam seus lares e famílias para trabalhar nas casas da elite branca. É triste pensar que a história da obra ainda é super atual para o Brasil, país com o maior número de empregadas domésticas do mundo segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, profissionais que são vítimas da violência, machismo e racismo.
Frida:
Frida Kahlo é um ícone feminista. Uma das principais artistas plásticas do século XX é ainda hoje lembrada não apenas pela beleza de suas obras, mas também por seus fortes posicionamentos políticos, que refletiam não apenas na sua militância como também em seu modo de vida. O filme Frida conta a história da artista, contando com direção de Julie Taymor e foi produzido e protagonizado por Salma Hayek. A obra que já era um clássico cult, ganhou ainda mais força depois que Salma contou dos abusos que passou junto a Harvey Weinstein para poder fazer o filme de sua vida.
Caramelo:
Lançado em 2007, mas ainda atual, a história de Caramelo se passa no Líbano, e tem como cenário um salão de beleza em Beirute onde cinco mulheres com estilos de vida diferente se encontram regularmente. A história de amizade feminina também trata de temas como o amor, sexo e relacionamentos na cultura libanesa a partir da perspectiva e vivência delas. Uma comédia dramática deliciosa ideal para curtir naquelas tardes preguiçosas.
O Sonho Wadjda:
A Arábia Saudita é conhecida por seu controverso governo autoritário, cultura conservadora e também por ser um dos países com maior desigualdade de gênero no mundo. O Sonho de Wadjda passa por esses temas ao contar a história da Wadjda, uma jovem de 12 anos que mora no subúrbio de Riade, capital da Arábia Saudita. Wadjda é uma garota que não se encaixa nos padrões de sua cultura, usando calça jeans e tênis além de ser um amante do rock’n roll. No filme o grande sonho da menina é comprar uma bicicleta para disputar uma corrida com seu melhor amigo, o que não é nada fácil de ser realizado em uma sociedade que diz que a bicicleta é apenas para meninos porque podem ser perigosas para a virtude das meninas.
Meninos Não Choram:
Um clássico do final dos anos 1990 baseado em uma história real que aborda a questão da transexualidade em uma época onde o tema era ainda mais marginalizado. Meninos Não Choram, conta a história de Brandon Teena, um homem trans interpretado de forma brilhante por Hillary Swank. Em dando momento, Brandon se envolve com uma mãe solteira da zona rural de Nebraska e sofre consequências trágicas quando sua transexualidade é descoberta. É daqueles dramas potentes que funcionam como uma tapa na cara para despertar para o preconceito e dificuldades enfrentadas por pessoas trans.
Ufa! Vamos ser sinceros: essa lista poderia ser muito maior do que está e temos a certeza que deixamos boas indicações de fora. Se você tem alguma sugestão, compartilha com a gente nos comentários!
Boa sessão sofá!