Com preços baixos, produção acelerada e a promessa de replicar as tendências momentâneas das redes sociais, a Shein tem ganhado cada vez mais destaque, atraindo consumidores em mais de 200 países ao redor do mundo. No entanto, por trás de todo esse sucesso, existe um conjunto de efeitos nada sustentáveis.
Entenda como a marca de fast fashion que já faturou mais de US$ 8 bilhões em vendas no ano passado contribui para a degradação do meio ambiente.
O sucesso da Shein nas redes sociais e no Brasil
A marca chinesa foi fundada em 2008 pelo empreendedor Chris Xu, mas foi só nos últimos anos que passou a ser reconhecida por vender roupas bonitas, com preços baixos e na moda. O que começou como empreendimento de vestidos de noivas, tornou-se a maior referência como varejista online de moda.
Com mais de 250 milhões de seguidores nas mídias sociais, a Shein se aproveita da febre dos influenciadores e usa disso para impulsionar ainda mais o seu sucesso. Com publicidade e patrocínio, não é difícil identificar vários influenciadores criando conteúdo para o público mais jovem sobre a marca chinesa, avaliando a qualidade e o custo-benefício de cada compra.
Como consequência do sucesso explosivo, a empresa consegue produzir com velocidade o que a geração Z quer vestir. Para isso acontecer, existe um time com mais de 800 funcionários que analisam e avaliam as hashtags e as tendências mais comentadas em redes sociais como Tik Tok e Instagram. O público não precisa mais esperar uma semana ou um mês entre um lançamento e outro, são disponibilizados mais de mil novos modelos por dia na plataforma.
Com tantas condições atrativas fica fácil entender todo o sucesso da Shein, mas será que vale a pena consumir em lojas deste tipo, tendo tantas críticas sobre a forma como a empresa é conduzida?
Vale lembrar que o Brasil é um dos cinco maiores mercados da empresa em questão de faturamento, e esse foi um dos principais motivos para que a Shein decidisse investir e adaptar fábricas brasileiras para produzir as roupas localmente. Essa é uma boa notícia para quem defende este modelo, pois a Shein está se comprometendo a investir US $150 milhões nos próximos três anos, gerando uma média de 100 mil novos empregos.
Este sucesso no Brasil está relacionado a vários fatores, como por exemplo: não existem taxas quando você compra no e-commerce chinês, ou seja, o produto que chega diretamente da China é bastante acessível, sem imposto de importação; os preços dos produtos são, de fato, muito atrativos; existe uma equipe dedicada ao mercado brasileiro, para avaliar e criar produtos que tenham um bom desempenho, o famoso "product-market fit".
Consequências dos preços baixos: quem está pagando a conta?
A Shein teve uma rápida ascensão, tornando-se a rede online de moda mais comentada em 2020. A varejista está à frente de uma das maiores produções da atualidade e muito disso se dá pelo fato da empresa ser estrategicamente abrangente e inclusiva, sendo uma das poucas alternativas para diversos grupos de pessoas, principalmente para quem veste tamanhos plus size.
O fato de ser inclusiva combinado com os inúmeros cupons de desconto e frete grátis que a plataforma disponibiliza diariamente torna tudo bem mais atrativo e é quase impossível resistir e não finalizar uma compra. Mas sendo a indústria da moda responsável por 8% a 10% das emissões globais de carbono, quem é que realmente está pagando a conta de todos estes preços baixos?
A marca se estabeleceu no mercado fast fashion, um modelo de consumo rápido e impulsivo. Isso significa que, diariamente, milhares de novos produtos são colocados no mercado, gerando uma bola de efeitos nada sustentáveis.
1. Lixo Têxtil: o planeta paga a conta!
Diante dos números exuberantes, é impossível não questionar qual é o destino final de tantas peças. Toda essa superprodução tem um preço: a durabilidade e qualidade das peças que, muitas vezes, são feitas com tecidos sintéticos e de baixa qualidade.
É certo que mais cedo do que se pode imaginar aquela blusa que estava na moda na semana passada vai ser descartada e indo parar em algum dos lixões ao redor do mundo, como é o caso do deserto do Atacama, que se tornou o maior lixão têxtil do planeta.
2. Exploração de trabalho humano: algumas pessoas estão pagando a conta!
De acordo com as leis trabalhistas chinesas, os trabalhadores não podem ultrapassar 40 horas de jornada semanal, mas, um documentário lançado pela rede britânica Channel 4, provou que não é exatamente assim que funciona nas fábricas da Shein.
O documentário revela que os trabalhadores que confeccionam as peças de roupa possuem uma carga horária de quase 18 horas diárias, com direito a apenas uma folga por mês. Os salários ficam em torno de 4000 yuans (o equivalente a R$2.900,00), para produzir 500 peças de roupas por dia. Isso significa que os funcionários costuram por horas seguidas e ganham um valor que equivale a R$0,20 por peça produzida.
3. Plágio: alguns artistas e criadores estão pagando a conta!
Além de todos os problemas trabalhistas, a varejista chinesa já foi denunciada várias vezes por plagiar outras marcas conhecidas no mercado. Inclusive, a Shein foi acusada recentemente de plagiar uma estampa de uma marca brasileira, a Jouer Couture.
Considerando a velocidade de produção e consumo, é perceptível que a marca não se preocupa muito em colocar originalidade como um de seus principais pilares. E embora a Shein seja conhecida por “democratizar o acesso à moda”, é realmente questionável o fato dela ser considerada democrática estando ligada a tantas polêmicas que envolvem plágio, exploração de trabalho humano e falta de consciência ambiental.
O que podemos fazer sobre isso?
A indústria da moda está entre os setores de maior impacto ambiental, logo, deixar de consumir moda fast fashion tornou-se uma necessidade. Por mais que os valores sejam tentadores, existe uma série de consequências que envolvem uma única compra em lojas como a Shein. Se o valor está bem abaixo do esperado, significa que alguém está pagando por ele e materiais nocivos ao meio ambiente estão sendo utilizados com irresponsabilidade.
Já uma política de taxas poderia ajudar um pouco a equilibrar o jogo, freando levemente o consumo da empresa aqui no Brasil. Houveram algumas tentativas no passado, mas não deu certo por conta das várias críticas negativas que a empresa recebeu nas redes sociais. Com a fábrica dos produtos no país, no entanto, a expectativa é de que os preços sejam ainda mais atrativos, até melhores.
Mas a pergunta é: por que precisamos de tudo isso se, no final, a grande maioria destes produtos, fabricados na China ou no Brasil, terminarão em aterros sanitários de algum lugar do mundo?
O caminho em direção a um futuro totalmente sustentável é longo e, infelizmente, ainda não existe moda completamente limpa, mas é fato que o slow fashion vem conquistando cada vez mais espaço como alternativa sustentável, priorizando um consumo mais humanizado e menos nocivo ao planeta.
O progresso pode parecer lento, mas muitas marcas como a Studio Pipoca estão se adaptando e alinhando seus projetos ao propósito de diminuir o impacto da moda no ambiente e se posicionando contra o consumo exagerado e irresponsável. Se quiser saber mais sobre o movimento no Brasil, fizemos uma lista de marcas slow fashion nacionais que você pode conferir clicando aqui!
É muito melhor investir em uma roupa com tecido de qualidade, feita em boas condições e de forma responsável do que comprar uma peça de roupa que não vai durar muito tempo no seu guarda-roupa e, muito provavelmente, vai ser descartada de forma indevida.
Estamos em um momento em que reflexões sobre os impactos ambientais e sociais tornaram-se urgentes, não podendo mais ser ignoradas com facilidade. Mais do que nunca precisamos avaliar o peso de nossas decisões e como elas podem afetar o futuro do planeta.
O simples ato de compartilhar informações sobre esse tema já faz uma grande diferença, especialmente para conscientizar jovens e o público-alvo do fast fashion e ultra fast-fashion em geral, sobre a importância de consumir moda com mais consciência.
Pequenos hábitos podem gerar uma grande mudança. Juntos somos mais fortes!
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