O que é o capacitismo?
Segundo o ator e roteirista Victor de Marco, em seu livro “Capacitismo: o mito da capacidade”, o capacitismo seria “a opressão e o preconceito contra pessoas que possuem algum tipo de deficiência (...) parte da premissa da capacidade, da sujeição dos corpos deficientes e sem razão dos sem deficiência”.
Para ficar mais claro, o capacitismo considera o corpo “normal” como um corpo “capaz” de fazer todas as coisas do cotidiano, enquanto qualquer corpo com deficiência é considerado anormal. O capacitismo reduz o corpo com diversidade funcional como um problema individual, impondo ao individuo que esse se adapte como puder na coletividade, incluindo deixar de fazer coisas comuns a pessoas dentro da normalidade se necessário. Esse preconceito e opressão contra as pessoas com diversidade funcional se manifestam de diferentes formas, desde aquela intima e individual, na reprodução de estereótipos e desprezo as pessoas pertencentes a esse grupo, como também de forma institucional, através de leis e estruturas matérias que representam uma barreira para esse grupo.
Sobre esse último aspecto, um exemplo claro dessas barreiras seria a falta de calçadas e passeios públicos propícios a cadeirantes, deficientes visuais e outros corpos com dificuldade de locomoção diversa. O capacitismo estrutural limita o direito a cidade e acesso a oportunidades de pessoas com diversidade funcional, sendo uma das faces mais cruéis dessa opressão. A discriminação estrutural aos quais os corpos com diversidade funcional estão sujeitos leva a normalização da desigualdade de tratamento, consolidando estigmas que colocam esse grupo como estando abaixo dos corpos dentro dos padrões estabelecidos por uma sociedade excludente. Vale ressaltar ainda que o capacitismo surge, em muitos casos, de forma sutil, mesmo entre aqueles que acreditam não ter nenhum preconceito. Como por exemplo, através da construção de narrativas que coloca as pessoas com diversidade funcional e suas famílias como guerreiras ou coitadas. Pode até parecer empatia, mas é só preconceito mesmo.
Exemplos de capacitismo
Para ficar mais claro como essa opressão se manifesta no dia a dia, abaixo separamos alguns exemplos de capacitismo:
- Não adaptar postagens em redes sociais para aumentar sua acessibilidade.
- Realizar perguntas invasivas como “o que aconteceu?” ou que questionem a diversidade funcional, especialmente a pessoas com a qual não tem intimidade.
- Optar por locais com falhas de acessibilidade para a realização de eventos.
- Ignorar e não se importar com a inacessibilidade ao se deparar com ela.
- Sentir pena de pessoas com deficiência, ainda que elas vivam seu dia a dia normalmente.
- Utilizar termos ou expressões como inválido, incapaz, louco, mongol, aleijado ou retardado.
- Falar com uma pessoa com deficiência como se essa fosse uma criança ou falar sobre ela, em vez de diretamente para ela.
E ai? Já cometeu algum desses atos capacitistas? Calma, você precisa se crucificar por isso. O importante é compreender o problema e agir para mudar, se descontruindo diariamente para não reproduzir atitudes opressivas.
Combatendo o capacitismo, construindo uma sociedade mais inclusiva
Combater o capacitismo e construir uma sociedade mais inclusiva é um processo que exige a desconstrução individual, educação e mudanças de paradigmas. A ideia de pessoas com diversidade funcional, no local do termo, pessoas com deficiência, é um exemplo deste último. É preciso lembrar que termos e palavras tem significado e poder, por isso essa não é uma questão menor. O termo pessoas com diversidade funcional tira o foco da questão da deficiência, para abraçar a ideia de que corpos são diversos, não homogêneos, questionando assim o próprio conceito de deficiência.
Essa construção ganha corpo quando passamos a enxergar para além do aspecto individual, compreendendo o contexto biopsicossocial em que se está inserido. Para ser mais claro: a paraplegia não gera tantos problemas se a sociedade se adaptar a ela, criando soluções arquitetônicas em prol da acessibilidade e sem barreiras. Dessa forma, deixamos de adotar uma abordagem individual, muitas vezes calçada nos discursos de pena ou superação, para entender que essa é uma questão coletiva que exige soluções coletivas e a participação direta de governos e a sociedade civil.
Buscando referências, praticando a escuta
Ainda que a internet seja um ambiente que pode ser bastante tóxico, é inegável que as plataformas digitais foram fundamentais para dar voz aqueles que antes não eram ouvidos, cumprindo um papel essencial para alcançarmos esse momento de contestação ao machismo, racismo, LGBTfobia, capacitismo, gordofobia, entre outras opressões. Uma das melhores formas de entender esses problemas, como se manifestam no dia a dia e formas de combatê-los, é escutar aqueles que sofrem com eles. Por isso, separamos indicações de perfis e páginas de pessoas com diversidade funcional que você precisa conhecer e apoiar. É gente incrível que produz conteúdos para todos os gostos!
- Lorrane Silva, a Pequena Lô ;
- Mariana Torquato ;
- Maria Paula Vieira ;
- Hawk ;
- Lelê Martins ;
- Gabriel Isac ;
Temos certeza que seguindo essa galera que vem mudando a forma como capacitismo e as questões ligadas às pessoas com diversidade funcional são abordados, levantando debates importantes e cumprindo papel chave para a construção de um mundo mais inclusivo. Conhece alguma outra página ou criador de conteúdo que fale sobre o capacitismo e as vivências de uma pessoa PCD? Compartilha com a gente! Vamos juntos fortalecer quem corre pelo certo.
Um futuro inclusivo é possível,
Até a próxima!