Hellen, mãe da Mariah 1 ano. - Studio Pipoca

Hellen, mãe da Mariah 1 ano.

“Quando eu digo "uma mãe em busca do progresso e não da perfeição”, eu quero dizer que somos seres em TOTAL evolução! A maternidade atípica é muito rotulada e de uma forma muito negativa e sem empatia.”

Você sempre teve o desejo de ser mãe? Como você enxergava a maternidade antes do nascimento de sua filha?

Sim, sempre desejei ser mãe! E eu já sentia que Deus iria me presentear com essa missão, que, a meu ver, é tão especial. Eu sempre achei a maternidade muito linda, ficava observando minhas amigas, primas, minha mãe e imaginando como seria comigo.

Nossa sociedade ainda é muito marcada pelo capacitismo. Sendo uma mãe atípica, você e a Mariah já vivenciaram alguma situação de preconceito? Como se prepara para caso algo um dia isso ocorra?

Sim, infelizmente vivemos o capacitismo no nosso dia a dia, e já tivemos algumas situações preconceituosas. Uma das mais marcantes aconteceu logo após o nascimento da Mariah, enquanto ainda estávamos internadas. Eu ainda estava assimilando as coisas. Tive uma companheira de quarto que ficava comparando as diferenças da filha dela com a minha (Mariah). Ela fazia vários comentários preconceituosos, como: "nossa, eu usei drogas a minha gestação inteira e a minha filha nasceu saudável”; “o bom é que você vai ter um bebê para o resto de sua vida”; “nossa, mas ela é tão linda que nem parece ter trissomia do 21", e por aí vai...

Foram muitos comentários de início e, naquele momento, eu ainda estava criando forças para conseguir dizer que: não, não era daquela forma. Eu queria ter dito que a Mariah tinha as suas diferenças e limitações, assim como cada um de nós, e que apesar de um comprometimento no coraçãozinho ou alteração genética ela era muito saudável.

Hoje, depois de ter vivenciado algumas situações como essa, acredito que a maior preparação é o conhecimento. Sem ele, não conseguimos relatar o que realmente é a síndrome de Down. E quando eu digo "conhecimento", eu digo no geral. É o convívio, os estímulos no dia a dia, cada evolução e acima de tudo o amor.

Ser mãe de um filho atípico deve ser um aprendizado diário. O que a Mariah já te ensinou sobre você mesma e sobre o mundo desde seu nascimento?

Ela me ensinou a ser forte, me ensinou o verdadeiro significado do amor, me aproximou de Deus e me fez ter fé quando eu já não enxergava motivos para prosseguir. Mariah me ensinou a ter gratidão por cada dia, e vivê-los um de cada vez, com simplicidade. Também me ensinou muito sobre ser resiliente, a enxergar o lado bom de cada dificuldade, aprendendo a lidar com elas para prosseguir.

A Mariah me fez enxergar o mundo com outros olhos, colocou em mim os olhos da simplicidade e do amor. Ela me fez entender que o mundo precisa de pessoas dispostas a amar. Hoje eu vejo que, o primeiro passo para um mundo melhor, é o nosso, o de cada um. Aquele que é dado diante as adversidades, da desigualdade, da falta de empatia e inclusão. Através de o nosso olhar para o mundo, nós vamos plantando em cada coração o amor, a empatia e o conhecimento.

Em suas redes sociais, encontramos declarações para o Rodrigo, seu companheiro. Qual a importância de ter essa parceria para lidar com os desafios de ser mãe sem pirar?

É essencial. Ele é muito parceiro, e essa parceria ficou bem mais forte ao nascimento da Mariah. Ele esteve comigo durante 12 horas antes do parto, me acalmando e segurando a minha mão, ele assistiu o parto e acompanhou tudo de pertinho. Logo após o nascimento, ele foi o primeiro a receber o diagnóstico e daí então tem sido mais que um parceiro, e sim um companheiro de vida. Quando estou nos meus piores dias, nos dias de "exaustão emocional", é ele quem me dá a mão e me encoraja com palavras, como: "amor, você é a melhor mãe que a Mariah poderia ter" , "não desista, olha aonde chegamos" , "ela vêm evoluindo muito, graças a você".

Além de ser o meu parceiro diante os desafios, ele me encoraja a prosseguir, me ajuda com os afazeres de domésticos e quando vê que preciso de um tempo, ele sempre fica com a Mariah para eu descansar. Essa parceria é mais que especial na minha vida e na minha maternidade.

Em seu perfil você diz que é uma mãe em busca de progresso, não da perfeição. Você já sofre críticas e cobranças pela forma como cria a sua filha? Que recado teria para essas pessoas?

Sim! Recebo muitas críticas sobre a maternidade atípica, como a forma com que deveria fazer coisas, sobre como deveria cuidar ou ensinar a Mariah. Quando eu digo "uma mãe em busca do progresso e não da perfeição”, eu quero dizer que somos seres em TOTAL evolução! A maternidade atípica é muito rotulada e de uma forma muito negativa e sem empatia. As pessoas "acham" que ser MÃE ATÍPICA, é sinônimo de ser FORTE o tempo todo, ser PERFEITA ou GUERREIRA em tempo integral. E não, nós não SOMOS FORTES O TEMPO TODO E MENOS AINDA PERFEITAS, estamos em busca de APRENDIZADO e EVOLUÇÃO.

Antes de sermos rotuladas como "MÃES ESPECIAIS", nós somos mulheres imperfeitas, como as outras. Somos mães como as outras mães. Não há nada de DIFERENTE em relação à maternidade atípica. A única diferença é a forma como criam e idealizam uma linha de pensamento de que ser mãe é sinônimo de perfeição e felicidade o tempo todo.

Qual o legado gostaria de deixar para a Mariah? Que mundo gostaria que ela encontrasse no futuro?

O maior legado que eu posso deixar para a Mariah, além do amor e respeito, é a autoconfiança de que ela pode ser o que ela quiser ser! Eu desejo que ela sempre acredite em si mesma e busque realizar cada desejo do seu coração. E entenda que o amor e respeito, caminham juntos, e essa é a chave para a perseverança em dias difíceis, para a falta de respeito e empatia.

Que ela encontre um futuro com igualdade, inclusão social, oportunidades para todas as pessoas, um mundo onde as pessoas não tenham rótulos e se aceitem como cada um realmente é. Eu desejo um mundo com muito respeito e amor.

Hellen, da conta Instagram @avidadeumamaeatipica

 

 

1 comentário

Mateus Daniel

Mateus Daniel

Que lindo 💙
Que lindo 💙

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