Tchu, mãe de Caetano 4 anos. - Studio Pipoca

Tchu, mãe de Caetano 4 anos.

“Eu costumo dizer que a maternidade traz uma urgência pra vida. E isso faz meu trabalho muito mais dinâmico que antes. Meu processo criativo é muito mais eficiente, e maduro também.”

 

Você sempre teve o desejo de ser mãe? Conte um pouco sobre a sua família.

Não, pelo contrario, a maternidade nunca esteve nos meus planos, era um universo muito distante. Sempre fui daquelas crianças / adolescentes que berravam aos quatro cantos que nunca se casaria ou teria filhos. Sou de uma geração de transição, onde mulheres não tinham muitas escolhas, acabavam sempre atreladas a casa e a família. A mulher que não seguisse esse roteiro era muito julgada, taxada de coisas horríveis. Então por isso, passei meu período de formação acreditando que a única maneira de ter uma individualidade seria me abdicando dessas imposições sociais. Por mais que estivéssemos inseridas nesse meio conservador, minha mãe nunca tolheu nossos questionamentos, sempre tentou garantir que não fossemos silenciadas (eu e minha irmã) nas nossas questões.

Elis Regina cantou que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Em algum momento você se pega reproduzindo práticas e comportamentos de seus pais que vivenciou quando criança? Como se sente quando percebe isso? É possível quebrar padrões e encontrar outras formas de criação?

Eu tive uma infância muito lúdica e minha mãe, que é professora, respeitava muito esse espaço infantil. Hoje eu vejo a imaginação do meu filho a mil por hora e entendo um pouco mais as atitudes da minha mãe, que acabava sendo uma mediadora entre esse universo puramente imaginário e a realidade.

Eu me lembro de achar um tédio quando ela me pedia pra arrumar as coisas que eu tinha espalhado durante a brincadeira, não entendia o porquê, já que mais cedo ou mais tarde eu acabaria por bagunçar tudo de novo. Posso dizer que hoje eu entendi perfeitamente. Portanto, eu aprendi com ela a não interromper uma brincadeira em prol da arrumação. Eu fui uma criança muito respeitada e consequentemente eu respeito muito o meu filho e admiro muito a criatividade dele!

 

No momento em que descobrimos que vamos nos tornar mãe, é quase impossível não imaginar o quanto nossa vida vai mudar. Você teve esse momento? Se sim, a realidade se assemelhou as suas expectativas ou vem sendo muito diferente?

Eu lembro que durante a gestação não tinha um dia que eu não me assustasse com essa condição, acordava e: « putz to gravida », foi assim ate o fim. E quando ele nasceu me lembro do susto que foi acordar com um choro de bebê, e só depois de alguns segundos perceber que era o meu, e que a partir daquele momento seria assim.

Como a maternidade era uma coisa muito distante na minha vida eu escolhi não criar muitas expectativas. Por exemplo, durante a gravidez eu não li nenhum livro sobre maternidade, criação de filhos, nada desse tipo. Esses livros me geravam muita ansiedade, eu me apeguei na ideia de que o quotidiano faria seu trabalho. Eu queria conhecer meu filho primeiro, em vez de conhecer uma estatística, ou os filhos daqueles autores.

Eu fiquei mais preocupada em aprender as coisas práticas como trocar fralda e a dar banho em um recém-nascido (coisa que eu deleguei pro marido na primeira oportunidade, porque eu morria de medo de fazer) do que criar expectativas.

Quando você era criança, como você definia família? E hoje em dia, após formar um núcleo familiar?

Desde muito cedo eu me lembro da minha mãe dizer que « família é feita pra juntar cacos » e eu carrego isso comigo. Acredito que família é esse lugar de acolhimento e por isso não acho que a consanguinidade tenha tanto peso quanto já teve. Porque sabemos muito bem que há familiares que são tóxicos, que contam com a obrigação da consanguinidade para subjugar membros mais « frágeis » em um núcleo familiar, por isso hoje eu acredito que a família vai muito além de obrigação. Família são aquelas pessoas que nos amam e nos acolhem independente de laços sanguíneos.

Você se mudou para a França quando seu filho ainda era bebê. Como foi essa experiência de vivenciar a maternidade em outro país e longe da sua rede de apoio?

Eu ainda era puérpera quando isso aconteceu. O que hoje, eu vejo como vantagem, porque eu me sentia um casulo com meu pequeno e não interessava onde a gente fosse parar, a gente continuaria aquela bolinha de amor e cuidado mutuo. Meu marido teve um papel muito importante pra manutenção desse casulo, ele fez o papel de rede de apoio que a gente precisava, jogava em todas as posições, olhando pra trás até hoje eu me pergunto como a gente conseguiu sem enlouquecer muito.

Era uma dinâmica cansativa, praticamente uma maratona de revezamento entre duas pessoas, eu e ele. A gente se conheceu como nunca, nós três (nós cinco, porque nossas duas cachorras nos acompanharam nessa maluquice e também foram muito importantes na formação dessa família) descobrimos que não interessa onde a gente tiver no mundo a gente vai fazer um lar.

Ser mãe influenciou seu trabalho como artista? Como?

Eu costumo dizer que a maternidade traz uma urgência pra vida. E isso faz meu trabalho muito mais dinâmico que antes. Meu processo criativo é muito mais eficiente, e maduro também. Se antes eu divagava muito nos meus projetos, hoje eu consigo ser mais objetiva e fazer uma curadoria das minhas ideias, pra que eu não perca muito tempo em um trabalho que às vezes não vai muito longe.

Difícil mesmo é explicar para criança que aqueles lápis de cor incríveis ali são do trabalho da mamãe, ou que às vezes a mamãe passou o dia inteiro desenhando e que ela não quer desenhar uma guitarra cintilante com pintura de fogo que solta raio de arco-íris, assim que ela põe o pé em casa.

Tchu, da conta Instagram @bizarrerias_e_tatuagens

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