Quem nunca passou pela experiência de abrir o guarda-roupa e mesmo com ele cheio pensar que não tem nenhuma para vestir? Essa é uma situação super comum e que acaba sendo resolvida com mais uma ida – real ou virtual – a nossa loja preferida.
Durante todo o século passado o mundo presenciou a construção da sociedade de consumo. Consumir tornou-se sinônimo de liberdade, felicidade, satisfação, bem estar e ainda define como você é visto pelos demais. Essa mudança não ocorreu apenas pela infinidade de produtos, marcas e empresas que surgiram no período, embora a maior oferta cumpra papel importante, mas também pelo uso de mecanismos de desejo/frustração amplamente explorados pelo marketing e propaganda.
Foi gestada uma consciência coletiva que colocou o consumo no centro de nossas vidas, ao ponto de acreditarmos que mesmo com um guarda-roupa cheio de peças e acessórios ainda assim precisamos de novas roupas. O problema é: o mundo não aguenta mais isso.
As mudanças no mundo e a necessidade de mudanças
Para viver o ser humano necessita consumir. Consumir alimentos, água, substâncias com efeitos na saúde, materiais para construir casas, ferramentas, etc. Esse consumo, porém, tem impactos diretos sobre o planeta em que vivemos. Impactos para além do que vemos.
Quando você compra uma peça de roupa, você não está afetando o planeta apenas na geração de resíduos. Todo o efeito nos recursos ambientais durante o ciclo de vida do produto acompanha sua compra, como a quantidade de água utilizada no cultivo do algodão e produção da roupa, os gases emitidos durante transporte, confecção, etc. Uma calça jeans, item quase obrigatório em nossos guarda-roupas, por exemplo, utiliza na produção e ao longo de sua vida útil quase 4.000 litros de água. Além disso, o processo de confecção equivale à emissão de 333,4 kg de carbono, o mesmo que um carro emite em uma viagem de 111 Km.
A moda, aliás, está entre os setores produtivos com maior pegada ecológica. As indústrias de vestimentas e calçados pelo mundo são responsáveis por 8% de toda a emissão de gases do efeito estufa. Além disso, em torno de 20% da poluição da água relacionada à atividade industrial está associada ao setor têxtil.
Esses dados assustam quando pensamos que estamos vivendo em plena emergência climática e possivelmente o início de um processo de extinção em massa. Se nada for feito para mudar o cenário atual, corremos sérios riscos de nas próximas décadas vivermos em um mundo hostil. Os governos têm a obrigação de elaborar políticas públicas e atuar para a construção de um mundo sustentável; As marcas e empresas têm a obrigação de repensar sua forma de produzir e suas metas de crescimento; Os consumidores têm a obrigação de repensar seus hábitos de consumo.
Assinatura de roupas – contando com um guarda-roupa compartilhado
Essa necessidade de repensar o consumo e a forma como nos relacionamos com as mercadorias não é nova. Há anos iniciativas das mais variadas nesse sentido vêm sendo gestadas em diferentes setores da atividade econômica.
É o caso, por exemplo, da economia compartilhada, que teve seu grande impulso após a crise mundial de 2008 e hoje conta com representantes de valor bilionário, como o Airbnb, plataforma que permite as pessoas alugarem suas casas ou quartos. O centro da ideia da economia compartilhada é não ter bens duráveis, que passam a ser vistos como objetos de uso temporário e assim podem ser vendidos, alugados ou trocados com outras pessoas.
Talvez você esteja pensando: “Ué, mas o serviço de aluguel de carros, de trajes para festas e de equipamentos variados existe há muito tempo!”. Sim! Mas a economia compartilhada ampliou e transformou esse modelo de negócio.
Na moda, por exemplo, hoje se encontra não apenas serviços para aluguel de roupas para ocasiões específicas, mas empresas que trabalham com a ideia de um guarda-roupa compartilhado, onde se recebe mensalmente peças para serem utilizadas durante aquele mês.
São os clubes de assinaturas de roupa, que no Brasil conta com alguns representantes como a Roupateca, Biblioteca de Moda, Bump Box (voltada para as gestantes), entre outras. A ideia, porém, ainda está no início por aqui quando em comparação a consolidação desse modelo na Europa e Estados Unidos. Cada uma das empresas citadas como exemplo trabalha de uma forma, mas a ideia central é a mesma: fornecer roupas para o uso temporário que posteriormente serão enviadas e utilizadas por outras pessoas.
A assinatura de roupas permite que você tenha sempre peças novas para usar sem a necessidade de comprar, gerando economia para o seu bolso, para o espaço de sua casa e favorecendo o meio ambiente.
Guarda-roupa compartilhado infantil: porque as crianças não param de crescer
Para nós um serviço de guarda-roupa compartilhado que faz todo o sentido e tem tudo para ser um sucesso é aquele focado no público infantil, especialmente para os bebês, essas coisas fofas que não param de crescer. Quem já viveu a experiência de ser mãe sabe o quanto pode ser frustrante conseguir usar aquela peça que escolheu ou foi presentada com todo o carinho apenas uma vez. Vale lembrar que no primeiro mês de vida, por exemplo, o bebê cresce de 2,5 a 4 cm!
Diante do que vivemos no mundo, comprar roupas que serão utilizadas pouquíssimas vezes não faz qualquer sentido, especialmente das marcas de “fast fashion”, que vendem barato a um alto custo para o planeta e para os trabalhadores por trás das peças. É preciso mudar, é preciso repensar e o guarda-roupa compartilhado infantil surge como solução para esse desafio..
Aqui no Brasil temos a iniciativa da Circulô, uma empresa linda de assinatura de roupas para bebês alinhadas aos princípios de sustentabilidade e a moda âgenero. As roupas usadas pela empresa são sempre produzidas localmente e com algodão orgânico. Se você é mãe de bebê ou está gestante vale muito a pena conhecer o clube de assinaturas da Circulô e começar a construir uma nova relação com o consumo desde o berço.
Outra empresa que também trabalha com assinatura de roupas para bebês é a Tuga, do Rio de Janeiro. É muito legal que você tem toda a liberdade para escolher quais são as roupas que vai receber em casa e o valor mensal a ser pago é calculado de acordo com as peças. Nós do Studio Pipoca já trabalhamos com a Tuga e estamos sempre buscando esse tipo de parcerias com marcas e empresas que admiramos e fazem sentido para a gente. A Tuga trabalha no Brasil inteiro, pode entrar em contato com a Graziela para saber mais.
Para além do guarda-roupa compartilhado
Hoje o guarda-roupa compartilhado ainda engatinha no Brasil, mas isso não significa que não existam outras ideias ligadas a economia compartilhada e em prol do meio ambiente e de novas relações de consumo que não possa utilizar.
Um clube de assinatura de roupas voltada ao público infantil que vai nesse sentido é a Ninadora, que inicialmente tinha a ideia de seguir o modelo de compartilhamento, mas diante das dificuldades encontradas para esse mercado por aqui, optou por outro caminho. A Ninadora oferece um serviço de curadoria de roupas infantis, onde você recebe em casa uma mala com peças de roupas de acordo com o perfil escolhido. Você fica dois dias com as roupas e escolhe aquelas quer adquirir, devolvendo as demais. O diferencial? Ela usa peças seminovas!
Outra iniciativa que merece ser divulgada é a da Antes De Mim. Sabe sites onde você pode anunciar e vender roupas e objetos que não utiliza mais, como o Enjoei, Mercado Livre, etc? A Antes de Mim segue o mesmo princípio, tendo o foco nos produtos para bebês!
Para as mães que estão fazendo o enxoval dos pequenos é uma excelente opção para comprar peças de qualidade com economia ao mesmo tempo em que contribui com o meio ambiente, dando uma nova vida a roupas cheias de história e afeto. Construir um novo mundo é possível, mas exige a ação de todos nós. Repensar a forma como consumimos moda é urgente. Fortaleça as empresas e marcas que atuam pelo consumo consciente e o respeito às pessoas e ao meio ambiente.
Vamos juntos!
Gostou desse post? Então não deixe de conferir o nosso artigo sobre o greenwashing e o upcycling.