Precisamos falar sobre aborto espontâneo  - Studio Pipoca

Precisamos falar sobre aborto espontâneo 

O abroto espontâneo ocorre entre 15% e 20% das gestações do mundo, mas ainda assim é um assunto considerado tabu. Vamos falar sobre o aborto espontâneo?

Na reta final de 2020, Meghan Merkel, duquesa de Sussex e casada com o príncipe Harry do Reino Unido, publicou um artigo no reconhecido periódico New York Times onde contava a todos os leitores que em julho daquele ano havia sofrido um aborto espontâneo. Meghan estava grávida de seu segundo filho com Harry e em seu artigo contou não apenas sobre como o fato ocorreu, mas também toda a carga emocional que recaiu sobre ela e seu marido devido ao ocorrido. O que aconteceu com Meghan Merkel está longe de ser um fato incomum. De 15% a 20% das gestações em todo o mundo sofrem com o aborto espontâneo. Apesar do alto índice, esse é um assunto ainda pouco falado e discutido na sociedade.

A coluna de Merkel nos últimos dias de dezembro de um ano pra lá de complicado no mundo, abre a conversa sobre o aborto espontâneo, jogando luz sobre o assunto e inspirando muitas mulheres a falarem sobre o que elas passaram e seus efeitos.

Vamos falar sobre aborto espontâneo?

A repulsa em falar sobre o aborto espontâneo é até compreensível. Para muitos, a perda de uma vida em formação tem um peso muito maior do que uma vida formada e vivida. Talvez isso ocorra pela pureza e inocência associadas a um feto. Outro fator que ajuda a tornar esse assunto tabu é aquela velha ideia de “não falar para não existir”. A questão é que não só o aborto espontâneo acontece com milhões de mulheres pelo mundo, como também são elas as que mais sofrem. Quem já teve uma gravidez desejada sabe como é fácil se apegar aquela vida que se forma dentro de nós. Temos uma ligação com o filho que é diferente da dos homens, uma ligação que começa antes do nascimento. Além do lado emocional e do afeto que envolve uma gestação, a construção social da visão da mulher como mãe e progenitora também pesa nesse momento. São diversas aquelas que ao sofrerem com o aborto espontâneo se sentem menos mulheres, como se houvesse falhado em seu papel de “povoar a Terra”, além, claro, da culpa.

A culpa é um sentimento bem comum em mulheres que sofrem com o aborto espontâneo, especialmente na fase de luto, onde não raro se procura qualquer motivo que possa justificar e racionalizar a perda, mesmo que isso signifique assumir culpas que não são suas.

É importante entender que a exceção de casos excepcionais - como o consumo de algumas substâncias, acidentes e casos de violência, por exemplo – o aborto espontâneo é uma resposta do organismo quando este avalia que a gestação pode não dar certo e colocar em risco a vida da mãe. Precisamos normalizar o aborto espontâneo, o que não significa banalizá-lo ou diminuir a dor que ele acarreta, mas sim compreender que ele é um fato natural ao quais todas as mulheres estão sujeitas, de forma que aquelas que sofrem com o mesmo não precisem carregar culpa.

Pesquisas apontam que um ano após a perda gestacional, uma a cada seis mulheres apresentam sintomas de estresse pós-traumático. A ansiedade moderada e grave, assim como a depressão, são outros transtornos comuns nas mulheres que sofrem o aborto espontâneo, escancarando como a forma que tratamos a questão hoje é problemática e contribui para gerar ainda mais sofrimento nas mulheres. É urgente que o tema deixa de ser tabu, abrindo o caminho para adoção de ações, medidas e políticas públicas que permitam assistir e apoiar da melhor forma a todas aquelas que sofrem com a dor da interrupção da gravidez, como por exemplo, com o estabelecimento de grupos de apoio onde as mulheres possam falar abertamente sobre o que sentem e buscarem guarida umas nas outras.

Iniciativas para abrir a conversa

Vale ressaltar que hoje existem iniciativas nesse sentido impulsionadas por mulheres que sofreram com esse trauma, como, por exemplo, Do Luto à Luta, Instituto Amor Nosso, Grupo Acolher Mães de Anjos, ONG Amada Helena e Grupo Colcha de Retalhos. Essas ações são importantes tanto para o acolhimento das mães, como para ajudar a jogar luz sobre o aborto espontâneo e suas consequências junto às mulheres e famílias.

Sem uma mudança na forma como lidamos com a perda gestacional, milhões de mulheres que sofrem com o aborto espontâneo continuarão a sofrer caladas e arcando com duras consequências em sua saúde mental, autoestima e bem estar. 

Vamos juntas mudar essa realidade?

Até a próxima!

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