Heroínas? Não, Mulheres! - Desmistificando a maternidade - Studio Pipoca

Heroínas? Não, Mulheres! - Desmistificando a maternidade

As mães não são heroínas, são mulheres. Mulheres que sofrem, que cansam e que precisam compartilhar o maternar e contar com redes de apoio.

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Um dos papeis mais comuns atribuídos às mulheres quando elas vivenciam a maternidade é sobre como as mães são verdadeiras heroínas, guerreiras incansáveis que são as responsáveis por cuidar e o pilar que sustentam a unidade familiar. Com o crescente acesso feminino ao mercado de trabalho nas últimas décadas, que fez com que as mulheres também ocupassem cada vez mais o posto de chefe de família – no Brasil em quase 50% dos domicílios elas são as responsáveis pelo sustento – essa visão sobre a mãe heroína se consolidou.

A pandemia de covid-19 vem sendo outro fator importante na construção das “guerreiras”. Com a obrigação de passarmos maior tempo em casa, incluso as crianças, as mulheres mais do que nunca se viram no papel de administrar o lar e os conflitos familiares. O problema todo é que essa visão não passa de um mito, e não se trata aqui de desmerecer os desafios e esforços das mulheres, mas de entender a carga que coloca nas mães quando a colocamos no papel de heroínas inquebrantáveis.

Mães não são heroínas, são mulheres

Quando pintamos as mães como heroínas, estamos indiretamente colocando essas mulheres no papel de incansáveis capazes de fazer tudo por elas mesmas. Ou seja, é como se assumíssemos que as mães de verdade, as mães “raíz”, não precisam de ajuda ou de qualquer rede de apoio e dá-lhe mais tarefas, obrigações e responsabilidades. Um dos resultados desse mito é a submissão à dupla jornada, onde além de arcar com as responsabilidades profissionais as mulheres assumem o papel de responsabilidade de administração da casa, com toda carga física e mental que isso acarreta. Embora o papel da mulher e mãe como heroína e guerreira possa a primeira vista soar como elogioso, o que percebemos é que ele serve para a manutenção das opressões e do machismo. A mulher não pode cansar, tem que cuidar da casa, dos filhos e muitas vezes do marido, pouco importando se o trabalho remunerado dela exige mais que o de seu companheiro ou não.

E aí daquela que se levantar contra essa realidade. Quando isso ocorre é comum que a mulher seja apontada como preguiçosa, má esposa e má mãe, deixando claro o papel opressivo que o mito sobre mãe heroína emprega.

Veja bem: não queremos ser heroínas. Não queremos ser guerreiras incansáveis. O que queremos é compartilhar as responsabilidades da casa e do maternar. Queremos poder ter dias de descanso sem o peso da carga mental que existe na gestão da vida doméstica. Queremos poder chorar, sermos frágeis, ter vontade de fugir de vez em quando sem peso...

Porque a realidade é que a maternidade na vida moderna é um peso muito maior do que qualquer indivíduo é capaz de carregar sozinho, ao menos sem se quebrar, seja física ou emocionalmente. Sim, sabemos que muitas mulheres têm uma rotina puxadíssima e que dão conta do recado sozinhas, ou quase sozinhas. No Brasil existem cercam de 11 milhões de mãe solo , que em muitos casos não contam com qualquer auxilio dos pais dos filhos – nem mesmo com a pensão - ou mesmo de seus familiares. Hoje, infelizmente, a romantização tóxica da maternidade segue firme e forte, sendo propagada pela mídia, indústria cultural e até mesmo em peças de propaganda e publicidade – o que fica escancarado quando o dia das mães se aproxima – contribuindo assim para a manutenção de opressões e do patriarcado. Até mesmo a querida Netflix faz parte desse jogo. O documentário Motherhood in Focus, uma produção original Netflix, mostra as trabalhadoras da indústria de Hollywood que são mães e como elas lidam com as exigências profissionais e a maternidade. A questão é: embora todas as mulheres que aparecem no filme sejam dignas de aplauso e admiração pela dedicação, a obra é uma verdadeira ode as jornadas exaustivas, ao papel da mulher como pilar, como fortaleza capaz de dar conta das exigências dos filhos, do trabalho, da vida pessoal e ainda se manterem lindas.

Talvez seja o momento de darmos menos espaço a essa narrativa e ouvirmos mais pessoas como a Maria Karina, que em sua conta no Instagram onde mostra o seu dia a dia com Antonia, uma criança atípica e que recentemente postou um desabafo sobre como ela – e as mães no geral – precisam sim de redes de apoio, precisam sim compartilhar o maternar. Aliás, o Instagram é um território rico para aqueles que buscam conteúdos sobre a maternidade real. São muitos perfis de mulheres incríveis que mostram o dia a dia e desafios de ser mãe, derrubando a ideia idealizada e opressiva sobre o ser mãe. Alguns exemplos são a querida Maria Dinat, que fez as fotos do Studio Pipoca em 2020, a Priscila Josefick, criadora da Mamahood, marca que amamos; a Mãe Solo, Thaiz Leão; a lindíssima Andressa Reis ; a Mãe Fora da Caixa daThais Vilarinho; Militância Materna da Cila Santos; a coloridíssima e estilosa Debs;  entre muitas outras que ocupam a internet e ajudam a transformar a maternidade em um mundo patriarcal.

Descontruir o mito da “mãe heroína” e colocar no seu lugar a “mãe” - que às vezes é frágil, às vezes cansa, às vezes não dá conta sozinha – é um trabalho de cada um de nós em nosso dia a dia, não apenas evitando o uso de expressões, mas também compreendendo que a responsabilidade pelas crianças é de todos.

Uma outra maternidade é possível!

Até a próxima!

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